PBE EDIFICA - A certificação brasileira de edificações passa por alterações

O ano é 2021 e estamos ainda vivendo dentro de uma pandemia. O mundo passou a ser virtual e essa relação não se restringe apenas ao meio corporativo. Estamos vivendo virtualmente todas as nossas relações! A pandemia acelerou as mudanças de comportamento do ser humano em relação a vida virtual fazendo com que quem todos fossem obrigados a se aventurar na internet.

Mas independente da situação atual, o que vemos hoje é que o processo de compra mudou muito nas últimas décadas, nos últimos meses. Virtual ou presencial, uma das coisas que realmente mudou foi a forma com que o comprador analisa o produto a ser comprado: preço, design, marca e garantia ganharam a companhia de um item fundamental chamado "eficiência".

Quem hoje em dia se atreve à comprar uma geladeira, um aparelho de ar condicionado ou mesmo um ventilador sem analisar a etiqueta de eficiência de energia do Procel-Inmetro? Ela informa a classificação do aparelho com relação ao seu consumo de energia. Quanto mais bem classificado, menor o consumo. E é claro que aparelhos com baixo consumo possuem preços mais altos e vice-versa. Contudo, a conta da economia considerando o preço do produto e a conta de energia no fim de anos de uso, valida o gasto inicial maior.

MAS AS EDIFICAÇÕES SÃO MESMO AS VILÃS NO CONSUMO DE ENERGIA?

Os primeiros estudos de eficiência energética de edifícios foram estabelecidos nos anos de 1970 em resposta à crise do petróleo e dessa forma, vários programas regulatórios e voluntários e de incentivos financeiros foram criados ao redor do mundo para tentar analisar e melhorar o desempenho das edificações residenciais e comerciais, de serviços e públicas.

Em 2020 de acordo com o Relatório do Balanço Energético Nacional, a construção e a operação de edifícios consumiu 45,80% do total da eletricidade consumida no país.

A ETIQUETAGEM PBE EDIFICA

A etiquetagem PBE Edifica é um selo brasileiro de conformidade criado com a finalidade de evidenciar o atendimento a requisitos de desempenho estabelecidos em normas e regulamentos técnicos.

O Programa Brasileiro de Etiquetagem surgiu em 1984, com a ideia da formulação de uma etiqueta nacional de qualidade e eficiência. Nesse sentido, o Inmetro iniciou com a sociedade a discussão sobre a criação de programas de avaliação da conformidade com foco no desempenho, com a finalidade de contribuir, sobretudo, para a racionalização do uso da energia no Brasil através da prestação de informações sobre o eficiência energética dos equipamentos disponíveis no mercado nacional.

Primeiramente pensado para o setor automotivo, por causa das crises do petróleo que afetaram o mundo na década de 70, o projeto foi redirecionado, ampliado e ganhou o nome de Programa Brasileiro de Etiquetagem (PBE).

IMPACTOS DA ETIQUETA NA EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

Segundo o PBE Edifica, edifícios novos que aderem à certificação tem potencial de redução de até 50% do consumo de energia elétrica quando comparados a edifícios que não possuem a etiqueta. No entanto, no caso de edifícios já existentes que passam por um processo de retrofit o potencial de redução é de 30%.

EVOLUÇÃO DA ETIQUETAGEM

Desde 2014, o Procel Edifica junto com o CB3E vêm desenvolvendo ações para a melhoria do atual método de avaliação do nível de eficiência energética de edificações comerciais, de serviços e públicas, bem como de edificações residenciais - RTQ-C e RTQ-R. Em 12 de julho de 2018, foi publicada no Diário Oficial da União a consulta pública da proposta de aperfeiçoamento do Regulamento Técnico da Qualidade para a Classe de Eficiência Energética de Edifícios Comerciais, de Serviços e Públicos.

A intenção é melhorar o indicador de desempenho que auxilia o consumidor na tomada de decisão da escolha do seu imóvel. Atualmente, a etiqueta classifica o desempenho energético das unidades utilizando um indicador de consumo que, apesar de permitir a sua classificação de A a E, não fornece uma ideia de grandeza relacionada ao consumo real da edificação. Esta limitação não permite que a economia gerada por medidas de eficiência energética empregadas na mesma seja quantificada.

SURGE UM NOVO SISTEMA DE ANÁLISE

No dia 09 de março de 2021, a nova Instrução Normativa Inmetro para a Classificação de Eficiência Energética de Edificações Comerciais, de Serviços e Públicas (INI-C) que aperfeiçoa os Requisitos Técnicos da Qualidade para o Nível de Eficiência Energética de Edifícios Comerciais, de Serviços e Públicos (RTQ-C foi aprovada.

Como resultado, a nova proposta é baseada no consumo de energia primária, comparando a edificação analisada em sua condição real com a mesma edificação adotando-se características de referências, que equivalem à classe D de eficiência energética - no caso das edificações comerciais, de serviços e públicas.

É IMPORTANTE FICAR ATENTO À DATA DE VALIDADE

Desse modo, a partir de 24 meses contados da data de publicação desta Portaria, a Etiqueta Nacional de Conservação de Energia (ENCE) de Projeto para edificações comerciais, de serviços e públicas novas e a ENCE de Edificação Construída para edificações existentes e que não tenham sido submetidas à inspeção de projeto com base no RTQ-C deverão ser emitidas somente com base na INI-C ora aprovada.

MAS QUAIS FORAM AS PRINCIPAIS ALTERAÇÕES?

Existem condições de elegibilidade para a classificação nível A (independentemente do método utilizado, simplificado ou de simulação). Essas condições estão relacionadas aos sistemas de condicionamento de ar e iluminação principalmente.

No caso do ar condicionado, essas condições de elegibilidade variam de acordo com o sistema de ar condicionado escolhido como, por exemplo, VRF ou Chiller.

Com relação ao sistema de iluminação, as condições de elegibilidade também se assemelham aos antigos pré-requisitos para iluminação nível A. Por exemplo a contribuição da luz natural, controle local e desligamento automático foram mantidos, mas foi incluída uma nova condição: determinação do potencial de integração de iluminação e a luz natural disponível a partir de método simplificado ou de simulação.

Embora essa condição tenha caráter informativo, sua determinação passa a ser obrigatória todavia.

De maneira idêntica, novas questões do edifício passarão a ser avaliadas a partir de agora, como por exemplo, a geração local de energia renovável, emissões de dióxido de carbono e uso racional de água.

Também existem alterações no método de avaliação do edifício. A modelagem do edifício de referência para simulação mudou (agora depende da tipologia do edifício) e o indicador para classificação de eficiência energética mudou para percentual de redução do consumo estimado de energia primária (RedCEP).

GERENCIAMENTO DO RECURSO DISPONÍVEL - A IMPORTANCIA DE PLANEJAR E MEDIR

Independente das alterações propostas e do método de avaliação escolhido, sem dúvida, é muito importante que todo o processo de certificação possua começo, meio e fim. É imprescindível que seja feito o planejamento das ações de medição, verificação, controle e correção dos sistemas analisados na fase de projeto.

Sendo assim, a certificação, seja ela qual for, serve como base para que a eficiência de um edifício seja planejada, aplicada e mantida ao longo de sua vida útil.

Em outras palavras, uma boa base de dados quando acompanhada mensalmente pelos gestores da edificação é capaz de nortear ações de correção de erros nos sistemas como por exemplo, vazamentos de água, fuga de energia, problemas elétricos nos motores, dentre outros.

Nesse sentido, uma vez que se tem um mapa de eficiência de cada sistema aplicado, consegue-se uma analise mais profunda e uma correção mais precoce, evitando-se gasto desnecessário de dinheiro.

Em outras palavras, programar, analisar e não acompanhar é o maior erro cometido por quem se propõe a certificar uma edificação, pois o processo deve ser contínuo para ter valido à pena.

Como resultado, teremos edifícios mais eficientes por muito mais tempo.